Foto: Ana Beraldo
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É a festa do povo, feita pelo povo. Não é um espetáculo para ser visto, mas sobretudo para ser compartilhado. É a festa onde o lúdico, a devoção, o moderno e o tradicional se entrelaçam e promovem a interação de todos: nativos, visitantes, congadeiros, festeiros, camelôs.

O auge das comemorações é sempre no sábado, neste ano, 27 de junho. As festividades iniciam-se ao amanhecer com a Alvorada Festiva. Às 15h acontece a “Subida do Reinado”, um dos rituais mais belos da cultura popular do sul de Minas, não só pela tradição secular, mas pela sua magnitude.

Foto: Ana Beraldo
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O cortejo tem como figuras principais o rei e a rainha e a guarda-coroa. O rei e a rainha são representados na figura dos festeiros que, protegidos com sombrinhas, conduzem as coroas, símbolos da Festa. A guarda-coroa, um grupo de “soldados” uniformizados e munidos de espadas, tem como missão proteger as coroas. Este ritual tem suas raízes nas antigas lutas entre mouros e cristãos na Idade Média. Esta representação dramática foi introduzida no Brasil pelos jesuítas com o objetivo de catequizar os índios e escravos africanos, ressaltando o poder da fé cristã.

Participam também do ritual, as congadas da cidade – Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e a Congada Mirim São Pedro –  e as congadas convidadas. Com seus batuques envolventes, gingados coreografados e cores vibrantes, as congadas dão brilho ao cortejo.

E, por o último, o povo, que participa do cerimonial pelo prazer de festejar ou pela religiosidade. Muitas pessoas cumprem promessa neste dia.

Foto: Ana Beraldo
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O encerramento do cortejo é na Casa da Santa, onde as coroas ficam guardadas até o dia seguinte.  No domingo, também às 15h, acontece outro ritual complexo e emocionante lá que é a transferência das coroas – dos festeiros antigos para os novos – e, em seguida, a Descida do Reinado pelas ruas da cidade com a participação das congadas.  As coroas são guardadas sigilosamente na residência dos novos festeiros até o Reinado do ano seguinte. Os festeiros de 2015 são os irmãos Raimundo Caninana e Rita Caninana.

No domingo, às 10h,  será realizada a Missa Conga com a participação das congadas, atrás da Matriz.  É o sincretismo religioso unindo a Igreja Católica e os rituais de origem africana. Às 11h30 háverá apresentação das congadas no mesmo local.

Para o prefeito de Silvianópolis, Benedito Porfírio Borges, a Festa do Rosário é o evento mais significativo do Município. “Manter esta tradição viva que sobrevive às custas de doações requer a cooperação de todos: povo, festeiros, Associação e do poder público. Demos todo o apoio –  serviços e financeiro – e continuaremos apoiando durante os próximos anos de nossa gestão. Parabéns aos festeiros e à comissão pelo brilhantismo do evento”, enfatiza.

Foto: Ana Beraldo
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História da festa

Segundo pesquisas da historiadora Carlina de Morais Dutra, que também era membro da Associação Nossa Senhora do Rosário (faleceu em 2009), a Festa foi fundada pelo padre Manoel Negrão de Monte Carmelo, natural de Guaratinguetá, SP. Para organizar os festejos, ele criou a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos que, com o passar dos anos, passou a ser denominada de Associação Nossa Senhora do Rosário, em atividade até hoje.

“Acredito que a finalidade dessas irmandades era proteger o negro e propiciar-lhe divertimentos. Os senhores de escravos faziam concessões aos escravos permitindo que esses se alegrassem com suas festas nas senzalas”, documentou a historiadora.

Em suas pesquisas, a historiadora cita um episódio acontecido em 1920, quando o bispo da época, Dom Otávio Chagas de Miranda, em visita à cidade constatou que a Festa era muito profana e que  a Capela do Rosário estava em péssimo estado de conservação. Indignado, ordenou a demolição da Igreja. Mas a população se rebelou e nova capela foi construída, conhecida hoje por Casa da Santa.