Estiagem. Foto: Fernando Campanella
Foto: Fernando Campanella

Estiagem em Pouso Alegre e região

Artigo enviado por Roberto Romanelli Barata *

A estiagem que ocorreu no Sul de Minas, entre os meses de dezembro de 2013 a fevereiro de 2014, vem causando prejuízos a todos os agricultores, sobretudo aos do Município de Pouso Alegre. Prejuízos esses que se prolongarão ainda mais, se as poucas chuvas atuais permanecerem em nossa região. Os registros nas memórias de nossos moradores mais antigos, mostram que não ocorre seca assim neste período há mais de 70 anos.

As águas diminuíram consideravelmente dificultando o uso de irrigação. As hortaliças receberam e estão recebendo menos água do que as necessidades das mesmas. As lavouras que só dependem das chuvas para receber a água que necessita, estão sendo ainda mais prejudicadas. Os produtores estão tendo que escolher o que irrigar, já que não tem água suficiente para irrigar tudo o que foi plantado. O que se plantou e não se irrigou, se perdeu, e o que se irrigou também teve queda na produtividade. Como consequência disso, temos redução da produção em geral, crise de abastecimento e o aumento nos preços dos hortifrutigranjeiros.

Sobre irrigação, nossa região tem felizmente muita tecnologia envolvida, visto que a maior parte de nossa área irrigada utiliza o sistema por gotejamento, que faz uso muito mais racional da água que sistemas como o de aspersão. Infelizmente grande parte dos sistemas de irrigação fora da cultura do morango ou de suas áreas, se utiliza da aspersão. Apesar do uso do gotejamento em grande parte das fases da cultura do morango, a mesma se utiliza de um grande volume de água em seus estágios iniciais, necessitando do uso do sistema de aspersão, às vezes até três vezes ao dia, justamente no momento atual em que a falta d’água é proeminente.

Atualmente a água disponível não é suficiente para todos os irrigantes, o que tem gerado brigas e discussões entre vizinhos que se utilizam da mesma fonte d’água.

Culturas implantadas no ano de 2013 vão reduzir a produtividade e as implantadas no primeiro semestre de 2014 sofrerão diminuição da área plantada, pois as mesmas já deveriam estar plantadas ou em fase de plantio. Isso está ocorrendo por falta de chuvas e água nos córregos para irrigação. A cultura do morango, por exemplo, sofre com o atraso no preparo das áreas e com as perdas nos canteiros de mudas, e sofrerá com a redução dos estoques de água de nossos solos e com as consequentes reduções nos volumes de água disponíveis para futuras irrigações.

Com relação à produção leiteria do município, que é de cerca de 65.000 litros por dia, com a estiagem ocorreu uma diminuição de 30% em média. Como a produção ao longo do ano é muito dependente da produção de silagem de milho e de cana, as perdas devem se prolongar por todo o ano de 2014.

Uma questão de grande importância é o que se poderia fazer para minimizar a ocorrência desses fatos e as suas consequências. Sobre a estiagem, estima-se que com o aumento do desmatamento na região amazônica e com o aumento das temperaturas médias do planeta, nossa região tenderá a sofrer mais frequentemente essas variações climáticas prejudiciais a todos nós. Cabe ao governo federal e aos governos estaduais da referida região amazônica, desenvolverem políticas ambientais coerentes para todo o país. Sobre as consequências da estiagem, o governo municipal de Pouso Alegre iniciou em 2013 um belo caminho a ser trilhado. Com a criação da Gerência de Gestão de Recursos Hídricos e consequentemente com seus novos projetos, entre eles o de preservação das matas ciliares da bacia do Rio Mandu, que segue o belo caminho do Município de Extrema, com o projeto do produtor de água, poderemos ter no futuro condições de ter menos perdas nos volumes d’água de nossos rios e córregos. Não nos esqueçamos de que para reduzir as consequências das estiagens, políticas agrícolas seriam de grande importância. Há previsões de ajudas aos municípios quando da ocorrência de inundações, como as ocorridas em algumas regiões de nosso país ao longo de dezembro de 2013. E com relação a estiagens como a ocorrida em nossa região, que está fora das tradicionais regiões atingidas pelas secas. São questões a serem pensadas pelos governos estaduais e pelo governo federal no curto e médio prazo.

Não nos esqueçamos de que temos em nossa agricultura familiar um patrimônio regional, e que a estiagem pode gerar êxodo rural e suas consequências para nossas cidades do Sul de Minas.

Vemos que as consequências das estiagens não se encerram por aqui, e nem mesmo com as poucas chuvas atuais.

*Roberto Romanelli Barata é engenheiro agrônomo e secretário municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento