Restaurante considerado de luxo foi fechado. Foto: Reprodução Facebook
Restaurante considerado de luxo foi fechado. Foto: Reprodução Facebook

Um restaurante fechou as portas em Pouso Alegre após investigações da Polícia Federal. Segundo a Polícia Federal, o estabelecimento “Pouso Grill” seria de integrantes da seita religiosa “Jesus a verdade que marca”, investigada por suspeita de trabalho escravo e apropriação de bens.

O restaurante foi fechado nesta segunda-feira (14). Por meio de uma faixa fixada na entrada, o restaurante alega que o motivo do fechamento seria uma campanha difamatória:

“Por motivos alheios a nossa vontade, fruto de uma campanha difamatória político-ideológica, fechamos.
Mas, agradecemos e pedimos desculpas aos nossos amigos que juntos tivemos, recebemos tratamento humano e justo com dignidade reciproca.

Da família Pouso Grill.”

Restaurante fixou faixa na entrada, alegando que o motivo seria uma campanha político difamatória. Foto: Reprodução Facebook
Restaurante fixou faixa na entrada, alegando que o motivo do fechamento seria uma campanha político difamatória. Foto: Reprodução Facebook Pouso Alegre News

O Pouso Grill é considerado um restaurante de luxo em Pouso Alegre, tendo três andares, funcionários bem vestidos, e manobrista no estacionamento. Ele foi apontado pela Polícia Federal como um dos vários estabelecimentos comerciais ligados à seita. O funcionamento é semelhante ao de outro restaurante que também funciona como pizzaria. O ponto fica em uma área nobre de Pouso Alegre e é frequentado, principalmente, por empresários. Só no Sul de Minas, a Seita também teria ligação com estabelecimentos em Poços de Caldas e Varginha.

Segundo a polícia Federal, nenhuma conta foi bloqueada afim de não inviabilizar qualquer negócio, e o fechamento do estabelecimento ocorreu por opção do restaurante. Ainda segundo a PF, a lista com os 35 estabelecimentos comerciais da Seita deve ser liberada após o levantamento do Sigilo do Inquérito. A expectativa é que o inquérito fique pronto nos próximos 30 dias.

Repercussão

Um dos lideres da Seita foi preso em Pouso Alegre(Foto: Reprodução EPTV)
Um dos lideres da Seita foi preso em Pouso Alegre(Foto: Reprodução EPTV)

O caso ganhou grande repercussão nacional há 1 mês quando líderes da Seita foram presos em Pouso Alegre e outras cidades do interior de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Em Pouso Alegre foi preso o Pastor Cícero Vicente de Araújo, considerado um dos principais lideres da seita. Todos os suspeitos foram presos temporariamente, e já estão em liberdade.

O pastor nega que tenha envolvimento nos crimes denunciados pela Polícia Federal. “Nenhum [envolvimento], até hoje. São 17 anos que eu sou ‘caçado’ pela imprensa. Ninguém nunca me perguntou alguma coisa pessoalmente e faz 17 anos que espero a oportunidade de falar”, disse Araújo à Globo, ao chegar à delegacia na segunda-feira. Mas ao ser questionado sobre o que gostaria de falar, ele não quis se pronunciar.

A Seita

A seita começou a ser investigada em 2011. De acordo com a Polícia Federal, os fiéis frequentavam uma igreja com sede na capital de São Paulo e, em seguida, eram convencidos a ir para o interior, com uma mudança completa de vida. Ao entrar para a seita “Jesus, a verdade que marca”, eles seriam convencidos a doar todos os seus bens.

“[Eles são levados para o interior] sob a promessa de que viveriam em comunidades onde vigeria o princípio da igualdade absoluta. Todos os bens seriam de todos. Na sequência [as pessoas] são transferidas para fazendas, onde trabalham sem remuneração. Lá eles também têm a liberdade cerceada e, ao irem para as cidades, são escoltadas por membros da seita”, afirmou o delegado de Varginha, João Carlos Girotto.

Funcionários seriam fieis, e não receberiam salários

Trabalhadores eram mantidos em fazendas e não recebiam salários (Foto: Reprodução EPTV)
Trabalhadores eram mantidos em fazendas e não recebiam salários (Foto: Reprodução EPTV)

Segundo a denúncia, os fiéis assinavam um termo de doação de todos os seus bens. Nas fazendas da organização, trabalhavam executando atividades agrícolas, e ainda em postos de combustíveis e restaurantes. Os funcionários assinavam recibos de pagamento pelos serviços, mas não recebiam os salários, que ficavam com a seita.

Ostentação dos lideres

Líderes da seita possuíam carros de luxo e imóveis de alto padrão (Foto: Reprodução EPTV)
Líderes da seita possuíam carros de luxo e imóveis de alto padrão (Foto: Reprodução EPTV)

“[Os líderes conseguiam] um lucro exorbitante com o trabalho deles e doações”, disse o delegado da PF. A estimativa é que o patrimônio recebido em doações dos fiéis chegue a pouco mais de R$ 100 milhões. Parte do dinheiro teria sido convertido em grandes fazendas, casas e veículos de luxo.

“Há uma discrepância absoluta. Os fiéis em fazendas com situações precárias, e os líderes do religioso ostentando riqueza e adquirindo bens de considerável valor”, diz João Carlos Girotto, delegado da Polícia Federal.

Manipulação da mente

Em entrevista a Globo, o ex-membro da Seita, Ayrton Barbosa, afirma que os seguidores da seita são manipulados a fazer o que os líderes pedem:  “A realidade é essa… manipulação de mente, entendeu? Daí, o ‘cara’ desfaz totalmente da vida dele, larga a família. Quando eu abri o olho já ‘tava’ tarde. E, tem muita gente que já abriu o olho ‘tando’ lá. Mas, o que acontece… o ‘cara’ já desfez de tudo que tem. Eu não tinha nada, ficou mais fácil. Eu vim pra casa da minha mãe só com a roupa do corpo. E os outros que vendeu casa, vendeu carro e não tem mais nada. O ‘cara’ vai fazer o quê? Eles mostram uma coisa, mas lá é outra. Só quem sabe é quem ‘tá’ lá dentro. Então, o negócio deles, que eu vejo, é ganância por domínio e poder”, finaliza.

Delegados da Polícia Federal durante coletiva de imprensa em Varginha, MG (Foto: Samantha Silva/G1)
Delegados da Polícia Federal durante coletiva de imprensa em Varginha, MG (Foto: Samantha Silva/G1)

Perfil das vítimas

Segundo o delegado da Polícia Federal que preside a investigações, Thiago Severo de Rezende, as vítimas estavam em um estado de fragilidade emocional muito grande, geralmente com problemas familiares. Entre os membros, há desde pessoas simples, sem bem nenhum, como também alguns que possuíam propriedades e dinheiro que eram passados à instituição.

Com informações da Polícia Federal e G1