Em meio a um dos períodos mais conturbados da história brasileira é necessário parar, refletir e buscar caminhos para repactuar a busca pelo bem comum, feito que só é possível alcançar por meio da política. Esta foi uma das conclusões que se pode tirar do Café Filosófico conduzido pelo filósofo e professor Márcio Tangerino. Sob o tema ‘Política, Ética e Poder: Revisitando Maquiavel’, o evento é resultado de parceria entre a Câmara de Vereadores e a Faculdade Católica de Pouso Alegre (Facapa) e contou ainda com o apoio do Inatel Cultural. O evento contou com uma plateia lotada no Plenarinho do Legislativo e foi transmitido ao vivo pela TV Câmara, na tarde de sábado (02).

Em uma hora de explanação sobre o tema e mais 40 minutos respondendo a perguntas da plateia, o professor Márcio Tangerino retomou o conceito de política na visão de alguns dos grandes filósofos da história, mas, em especial, sob o espectro de Nicolau Maquiavel, considerado o pai da ciência política. Foi Maquiavel o primeiro a estudar e explicitar a dinâmica entre governantes e governados e como há nesta relação uma intrincada administração de interesses coletivos e não coletivos. Este enorme jogo de interesses pressionam o governante cujo objetivo é se manter no poder. Nesta relação complexa, está a origem das crises políticas, incluindo a que atravessa o país, afirmou Tangerino.

Como não poderia deixar de ser, as perguntas da plateia relacionaram o tema tratado pelo professor com o atual momento político do país e do mundo. Márcio Tangerino pontuou que movimentos semelhantes ao que o corre no Brasil podem ser verificados no mundo todo. Para ele, há uma dissociação do indivíduo da sociedade. A busca pelo interesse individual em detrimento do coletivo gera uma série de conflitos que contribui para a radicalização da política e formação de impasses quase permanentes. Questionado sobre a operação Lava-jato, que hoje pauta boa parte do noticiário político no país, o professor criticou seu tom midiático e sua personalização. “Infeliz do país que precisa de um herói”, declarou em referência ao juiz Sérgio Moro.

“Com uma enorme responsabilidade, a de refletir sobre um tema tão polêmico e tão apaixonante, o professor nos conduziu a repensar valores e conceitos e conceber uma realidade que é muito mais complexa do que se supõe na maior parte do tempo. Foi uma tarde enriquecedora para todos. Trata-se, portanto, de um projeto que produz conhecimento e fomenta o debate, base da cidadania plena. É uma honra para a Câmara de Pouso Alegre sediar um evento de tamanha qualidade”, avaliou o presidente da Casa, o vereador Maurício Tutty.

Para assistente da Escola do Legislativo, Mônica Fonseca, o café filosófico provocou um questionamento sobre “o nosso comportamento diante da nossa cidade, e o que estamos fazemos para contribuir para o bem coletivo”. Segundo ela, “as pessoas passaram a se preocupar e defender interesses particulares deixando de lado o interesse público”, o que explicaria a crise ética que envolve a política.

Analisando a eficácia do evento, a coordenadora do Curso de Filosofia da Facapa, Leila Sílvia Tourinho, considerou que o café atendeu todas as expectativas de maneira positiva. “Teve o brilhantismo, a seriedade e o comprometimento filosófico necessário na apresentação do tema pelo Prof. Márcio. Tivemos um público interessado, com perguntas perspicazes, que ajudaram ainda mais a elucidar o debate proposto. E, a presença de um bom número de jovens nos deixou muito feliz”, considerou.