Santinhos inundaram ruas de Pouso Alegre novamente (Foto: Reprodução redes sociais)
Santinhos inundaram ruas de Pouso Alegre novamente (Foto: Reprodução redes sociais)

Toda eleição é assim: Candidatos gastam enormes quantidades de dinheiro para imprimir e distribuir os tradicionais santinhos. No inicio eles são jogados dentro das casas, são entregues pelo candidato que pede o voto, e no final, acabam inundando as ruas no dia da eleição.

A prática é a muito tempo criticada pela sociedade, e é sempre a pauta jornalística mais comentada do dia da eleição. O cenário deixa claro, é uma guerra, onde para os políticos, quem sujar mais a cidade, teria mais chance de ter seu santinho levado a urna. Uma lógica que esta com os dias contados. Um dos motivos é a justiça. Em Varginha por exemplo, candidatos foram notificados pela justiça e não houve tanta sujeira na rua.

Mas alem da questão da lei eleitoral, a mudança pode começar a acontecer também devido a uma nova visão de como se fazer campanha. E o exemplo vem daqui, de Pouso Alegre (MG). Nessas eleições, um candidato a vereador na cidade conseguiu ser eleito entre os mais votados, sem seguir a lógica dos políticos. O professor Bruno Dias (PR), de 35 anos, não imprimiu nenhum santinho, e apostou na criatividade e dialogo na internet.

Bruno em um dos seus vídeos bem humorados (Foto: Reprodução Facebook)
Bruno em um dos seus vídeos bem humorados (Foto: Reprodução Facebook)

Na entrevista exclusiva dada ao PousoAlegrenet, Bruno conta quais foram os motivos de ter optado pelo não uso do santinho e da sua aposta no meio digital.

PA.net: De onde surgiu a ideia de fazer a campanha sem santinho?
Bruno Dias: “Na verdade, primeiro por uma questão de orçamento reduzido mesmo. Não teria muitos recursos financeiros para gastar com gráfica. Outro ponto é que eu sabia que o espaço de televisão seria bem reduzido e o tempo de campanha também. E na internet você tem um tempo muito mais livre. As pessoas que tem interesse vão te buscar na internet. Então eu busquei fazer uma campanha que fosse interessante do ponto de vista do público, e que fosse limpa do ponto de vista de material de campanha. Acho que acabei ganhando um pouco por que tive essa preocupação com a internet antes dos outros candidatos. E a ideia era essa. Fazer uma campanha sem sujeira na rua, e que fosse atrativa, que as pessoas se interessassem em assistir e acompanhar as propostas.”

PA.net: Você já parou pra pensar que ter vencido uma eleição dessa forma, vai deixar um exemplo de maneira diferente de se fazer campanha?
Bruno Dias: “Quando eu pensei na candidatura, o próprio partido disse que eu teria que fazer o santinho. Eu disse: ‘Bom, não vou fazer o santinho, pois eu já vi gente se machucar, e a sujeira generalizada depois das eleições’. Então eles disseram ‘Mas você corre o risco de perder se não fizer’. Eu disse ‘Não tem problema se eu perder, porque eu não estou ganhando nada também’. Então não tinha nada a perder na verdade. Não me sinto nem melhor nem pior que os outros candidatos, só mostrei uma forma diferente de se fazer a política. E se eu entrei na política era pra fazer diferente. Se fosse pra fazer igual, eu não precisava. Ficava caçando Pokemon com meu filho na rua, pra fazer igual o que os outros fazem. A ideia era fazer diferente desde a campanha. Veja bem, eu sou professor. Vivo educando meus alunos e filhos para não jogar papel na rua. Com que cara eu iria olhar para eles se tivesse meu santinho ali jogado no chão.”

Bruno e seu amigo Adriano Barreiro durante uma das transmissões ao vivo no facebook (Foto: Reprodução Facebook Bruno Dias)
Bruno e seu amigo Adriano Barreiro durante uma das transmissões ao vivo no facebook (Foto: Reprodução Facebook Bruno Dias)

PA.net: Você apostou bem na internet e produções de vídeo diferentes. De onde saiu a ideia?
Bruno Dias: “A ideia de como os vídeos foram produzidos foram pensando justamente nos problemas e no publico de internet. A gente media muito a questão das respostas das pessoas. Como as pessoas respondiam aos vídeos e como isso gerava um certo debate dentro dos próprios comentários. A campanha eu acho que ficou bem humorado sem deixar de ser séria do ponto de vista de encarar os problemas da cidade. Eu acho que é isso. Geralmente uma campanha politica é muito chata. As pessoas quando começam o horário politico tendem a mudar de canal. O que eu percebi no meu caso foi o contrário. As pessoas esperavam os vídeos para ver como eu iria discutir os problemas com humor. Acho que foi isso, a campanha deu interesse.”

PA.net: E qual a expectativa agora como vereador?
Bruno Dias: “A Câmara nova tem muita responsabilidade pela resposta como foi na urna. A renovação só aumenta a responsabilidade dos eleitos para que apresentem de fato uma legislatura inovadora que seja responsável com o espaço público, com o dinheiro publico. E essa responsabilidade é minha e dos outros 14 vereadores. A gente esta muito consciente das dificuldades que vai ter porque sabe que vai encontrar uma situação muito complicada. Mas a gente ao mesmo tempo tem a expectativa de recomeçar e reconstruir uma nova historia da relação do legislativo com as pessoas. Do cuidado com a participação popular. E de realmente fazer as coisas não de forma demagógica, mas fazer de forma permanente, de forma responsável.”

Confira alguns vídeos do candidato durante a campanha