Foto 1: Imagem ilustrativa / Foto 2:  Reprodução EPTV
Foto 1: Imagem ilustrativa / Foto 2: Reprodução EPTV

Classificar este texto é, de certa forma, uma tarefa complicada. Mesmo que eu tivesse a capacidade de enquadrá-lo numa categoria, creio que seria algo falho. Isto não é uma crônica, não é uma carta aberta, tampouco um recurso. Vou, então, ainda que arbitrariamente, classificar isto como um desabafo.

O destinatário desse desabafo é o agente 16979. Não o conheço pessoalmente. É mais um dos agentes de trânsito de Pouso Alegre. Ele veio a mim através de uma notificação de infração de trânsito. Sob nuvens de um certo anonimato, ele se identifica assim, com este número e, do alto pedestal da sua fé-pública, diz que eu estava “SEGURANDO TEL. CEL. COM UMA DAS MAOS (sic) JUNTO AO OUVIDO E FALANDO AO MESMO”.

Quem sou eu para questionar a perícia desse agente da Lei que me atribui uma infração de trânsito? É por isso que este texto não consiste num recurso.

Acontece que desde o dia em que recebi essa notificação, tenho revirado a minha memória para buscar esse momento em que eu dirigia e, ao mesmo tempo, falava ao celular. A notificação me dá os parâmetros para essa busca: o dia, a hora e o lugar. É de uma precisão invejável! Imagine se todos os setores da Prefeitura Municipal seguissem esse mesmo rigor e tivessem essa mesma eficiência… Que cidade excelente seria esta!

Mas, na verdade, como sabemos, a realidade é um pouco mais triste.

Não adianta recorrer da multa, apresentar uma defesa, o que seja… Naquele dia, meu caro agente 16979, minha atitude era mesmo muito suspeita. Mas eu insisto: eu não falava ao celular. De fato, eu levava uma das mãos ao rosto, próxima ao ouvido, mas não por falar ao celular. Confesso, eu estava daquele jeito porque estava triste.

Andar de carro por Pouso Alegre, meu caro agente, tem sido um grande motivo de tristeza! Se você reparasse tenho certeza que também se magoaria. Mas eu entendo a sua posição. A busca incansável pelo próximo descuido dos motoristas é uma tarefa implacável! A necessidade de rechear os escassos cofres municipais com algum recurso das multas é uma demanda premente – imagino. Creio até que você deve sofrer algumas pressões, não é mesmo?

Compreendo. Não se preocupe com isso. Mas, se num domingo qualquer, você estiver passeando em seu próprio carro, sem o peso do seu uniforme – por sinal elegante, digo isso sem retórica ou ironia, lhe cai bem! – sem o seu capacete com viseira fechada, sem a inflexibilidade do exemplo que deve partir de você, sem a motocicleta heroica… Se nesse dia você puder, meu caro agente, observe…

A cidade está imunda. Talvez você tenha até alguma informação dos bastidores, mas o que terá havido com a coleta de lixo e a varrição das ruas, não é mesmo? E não é só isso. A cidade está repleta de tipos estranhos, formando grupos que já não se podem chamar de pequenos, às vezes em frente ao Santuário, às vezes na Praça da Rodoviária ou na Avenida Getúlio Vargas. Será que o legado dessa Administração será a Cracolândia de Pouso Alegre? Chego a imaginar que deve haver algum plano nesse sentido… Estará isso no Plano Diretor? É como um ônus que a cidade tem de cumprir por atingir esse tal médio porte?

Não compreendo. Andando por aí me pego, novamente, colocando a mão no rosto e deixando transparecer algo como uma tristeza. Quando tenho que ir ao Fórum, então, o sentimento é ainda maior. A tal avenida Dique II, tão festejada, deu lugar a algo que ainda não sei definir. Será um sítio arqueológico? Um campo minado? Uma trilha de rally? Difícil definir.

Fico preocupado também com um outro aspecto: aquela obra pretende ter uma dupla função: avenida e dique. Ora, como via pública já tem se mostrado um desastre tamanho que imagino quando vierem as chuvas e cheias. Será que como dique aquela obra será tão desastrosa como tem sido na sua função de avenida? Preocupante, não?

Mas a “cereja do bolo”, por assim dizer, meu amigo agente 16979, é que em meio a todo esse caos que está nossa cidade, recebo a notificação da sua multa, e na mesma semana percebo uma bolha no pneu do meu carro. Curioso não? Em ruas tão impecáveis como as de Pouso Alegre, como terei conseguido essa bolha? Mas, deixe estar. Não quero incomodar você com essas minhas ironias.

Espero, sinceramente, que todo o seu trabalho tenha algum bom proveito, meu caro. Espero isso principalmente porque a cidade está precisando muito!