Dona Dulce foi a primeira pouso-alegrense a testar positivo para a Covid-19 (Foto: Reprodução Facebook)

Do contágio a cura do Covid-19. O PousoAlegrenet traz abaixo como foram os cerca de 30 dias de luta da Dona Dulce, de 84 anos, e de sua filha, contra a Covid-19.

Dona Dulce Coelho ficou em casa sob os cuidados da filha, a médica endocrinologista Carmen Rezende. A médica que cuidou da própria mãe infectada relatou ao PousoAlegrenet a cronologia da descoberta e do enfrentamento da doença.

O caso de Dona Dulce é um exemplo de que mesmo pessoas com idade avançada, podem vencer a Covid-19. Orar e levar a sério as orientações médicas é a receita.

Abaixo você saberá como ela pode ter sido infectada, como surgiram os primeiros sintomas, a internação em casa, como ela reagiu a fake news de sua morte, como a fé a ajudou a superar a doença e os piores momentos vividos nesses dias de luta.Confira:

Contágio

Segundo a médica, o contágio ainda é inexplicado. Dona Dulce não fez nenhuma viagem ao exterior no último ano e não esteve com parentes que tenham viajado para fora do Brasil no mês anterior à doença.

A idosa fez uma pequena viagem a uma cidade do Circuito das Águas, município que não registrou nenhum caso confirmado da Covid-19. Mas, foi depois do passeio, entre os dias 4 e 8 de março que começaram a aparecer os primeiros sintomas.

Primeiros sintomas

No dia 19 de março, em uma quinta-feira, Dona Dulce começou a queixar de um leve cansaço. Segundo a filha, por ser normalmente muito ativa, a família imaginou que se tratasse de um cansaço natural pelo excesso de atividades que ela faz no dia-a-dia, até que apareceu o segundo sintoma.

Na manhã de domingo (22), o cansaço que já era forte foi associado a uma febre de 38 graus e à noite, ela foi levada ao Pronto Socorro, onde fez exames de sangue e raio-x, cujos resultados foram inconclusivos.

Segundo Dra. Carmem, com a mãe ainda sem o diagnóstico e com os sintomas bem evidentes, passou a pensar na Covid-19. Na segunda-feira (23), a levou para fazer tomografia dos pulmões, que mostrou lesões no pulmão sugestivas do coronavírus.

Dona Dulce foi tratada em casa por uma filha médica (Foto: Reprodução Facebook)

O teste

O teste para identificar a Covid só foi feito no dia 26, porque ainda não havia kits disponíveis. A amostra para o exame foi feita por um laboratório particular na casa da paciente.

A internação

Depois do quarto dia em casa, Dona Dulce começou a piorar. Com febre, falta de ar e baixa oxigenação no sangue, a equipe decidiu pela internação; prevendo a possibilidade de uma insuficiência respiratória aguda. Porém, não foi internada. Foi quando a Dra. Carmem decidiu levar um aparelho de oxigênio e cateter para casa e cuidar da mãe lá mesmo.

A decisão de tratar em casa

De acordo com a médica, as incertezas sobre os fatores que levam os pacientes a evolução se tornaram uma preocupação. Ela sabia que a mãe poderia evoluir bem ou mal. A insegurança deixou a médica bem receosa.

No sábado (28), pedi a luz do Espírito Santo para mim e para a equipe que cuidava da minha mãe. Em vários momentos fiquei insegura. No momento que decidimos ir direto para a casa da minha mãe, quando as suspeitas ficaram fortes, quando optei por me internar com minha mãe na casa dela, porque ela é idosa, grupo de risco. Eu acredito que Deus me escutou, porque todas as decisões foram difíceis, porém, acertadas”, pontuou Dra. Carmem, ao explicar que fez tudo o que a medicina exigia, mas, recorreu à fé quando teve dúvidas.

Ajuda das amigas

No mesmo dia, o resultado do teste deu positivo para a Covid-19. “Quando o resultado saiu, eu comecei uma batalha com o desconhecido, porque a doença é nova e a comunidade médica ainda está descobrindo quais as melhores formas de tratar. Eu comecei a receber muita ajuda das colegas médicas e uma equipe começou a me orientar. As colegas da clínica São Francisco, a pneumologista Dra. Nara e a Dra. Ana Cláudia cardiologista me acompanharam por todo tempo”, relatou a médica.

Segundo a doutora, os sintomas começaram a se agravar e a equipe médica cogitou a possibilidade de interná-la, o que não ocorreu. “Tem idoso que nem tem febre. Mas, com a falta de ar aumentando, oxigenação mais baixa no sangue e a febre aumentando. Isso já era uma reação do vírus e a respiração já estava bastante cansada. Eu estava muito preocupada pois a qualquer momento poderia ocorrer uma insuficiência respiratória aguda. Mesmo com a ajuda dos meus colegas, decidi colocar nas mãos de Deus.”

Melhor decisão

A médica explica que a ajuda dos colegas foi muito importante, mas em alguns momentos a levou a decisões difíceis. Em determinados casos, as opiniões divergiam. “Quando eles davam opiniões diferentes eu ficava insegura e colocava nas mãos de deus para tomar a melhor decisão”.

Dona Dulce ficou em isolamento desde os primeiros sintomas (Foto: Reprodução Facebook)

A Fake News

Em meio a recuperação, a família teve que lidar com uma Fake News que envolvia a Dona Dulce. A notícia falsa foi espalhada rapidamente e informava a morte da paciente por causa do vírus. A família ficou preocupada com Fake News, mas preferiu contar a idosa quando ela já estava se sentido melhor.

Quando a minha mãe estava melhorzinha, ela soube da Fake News sobre a morte dela. Ela não ficou brava, ela é sempre muito piedosa e espirituosa, achou graça da situação e ficou feliz em ver os comentários pós-morte das pessoas sobre ela. Disse que já sabe agora o que as pessoas vão dizer depois que ela morrer. As pessoas elogiavam minha mãe, falavam da alegria e da fé dela”, explicou Dra. Carmem.

Dona Dulce tem 84 anos e está curada da Covid-19 (Foto: Reprodução Redes Sociais)

O vídeo que vazou

Com o passar dos dias, quando Dona Dulce começou a apresentar melhoras, ela decidiu gravar um vídeo e compartilhar com os seis filhos para tranquilizar a família. “A família acompanhava de longe, aflita e angustiada, já que não podiam nem visitar a mãe. Assim, o vídeo foi feito para tranquilizá-los. Minha mãe já estava sem visita desde o dia 19, quando sentiu o primeiro sintoma. Ela tem muitos netos e eles viajam muito para outros países. Eu quis evitar o risco.”

No vídeo, Dona Dulce explica que a intenção era apenas mostrar que as orações estavam sendo ouvidas e reforçar o clamor pela recuperação. Foi aí que o vídeo se espalhou.

A princípio, a família se preocupou com a divulgação da imagem, mas quando percebeu que o testemunho de fé da mãe estava motivando e levando as pessoas a rezar, foram tranquilizados.

Muitas pessoas fizeram vigília de oração pela recuperação dela. Quando soubemos que todo mundo já tinha o vídeo, no começo a gente ficou preocupado, depois a gente viu que foi bom, as pessoas gostaram de ver que ela está bem, ficaram comovidas com a fé dela”, contou Dra. Carmem.

Pior momento

A médica disse que no pior momento, Dona Dulce estava totalmente entregue à doença “ela ficava deitada o tempo todo, não comia, com a respiração muito cansada. Ela não tinha forças nem para rezar o terço. Começava e parava”.

Ela ainda reconhece que o histórico saudável da mãe colaborou para essa recuperação. “Minha mãe nunca fumou, ela pratica atividade física direitinho, faz hidroginástica, não falta. A alimentação dela é muito boa, posso dizer que é uma paciente exemplar, toma todos os medicamentos, vitaminas, se alimenta bem e colabora para um resultado favorável. Eu acho que foi positivo a recuperação dela e também acho que a decisão de ficar em casa foi a melhor.”

Ainda segundo a Dra. Carmem, outro fator colaborou para a recuperação: a estrutura montada no apartamento da Dona Dulce. “O quarto se transformou em um quarto de hospital, com aparelhos de oxigênio, cateter, oxímetro”.

Levar a doença à sério e seguir orientações da OMS

Para a médica, é importante tratar esta doença com a devida seriedade. “No começo, muitas pessoas acreditavam que o isolamento fosse um exagero, que não precisava de tudo aquilo, outras pessoas achavam que a doença não era tão grave. Eu achei melhor respeitar o desconhecido e seguir todas as orientações da Organização Mundial de Saúde. Temos que aceitar que a doença é grave e que pode matar, temos que tomar cuidado para não contaminar outras pessoas. Temos que respeitar as orientações do Ministério da Saúde para evitar o contágio e levar o tratamento a sério.”

E aconselha que cada paciente busque orientação médica e que reze pelo seu médico para que tome a melhor decisão, uma vez que são seres humanos que podem errar. “Quando for procurar um médico, se tiver mesmo que ir até um consultório ou no Pronto Socorro, reze pelo médico. Ele é um ser humano cheio de erros igual todo mundo. É claro que os cuidados são muito importantes, mas podem ser melhorados com a ajuda de Deus”.

Nesse período, as escolhas foram determinantes, foi uma recuperação baseada em decisões. Desde quando optamos pelo tratamento em casa e a cada nova reação, uma escolha difícil. Mas estamos felizes, a minha mãe está bem. Logo estará jogando de novo com os netos. Ela adora jogar baralho. E olha, ganha sempre. Os netos fazem fila para jogar com ela. De repente ela está jogando e do nada, começa a cantar. É a alegria da família, sempre otimista, sempre de alto astral. A família não vê a hora de voltar a conviver com ela.”

A cura

Na semana passada, a família recebeu a notícia da recuperação. Apesar de Dona Dulce ainda não estar 100%, ela segue melhorando, e já não está mais com o vírus. O segundo exame para o novo coronavírus deu negativo.

Resumo

Para quem acompanhou a história, dá para fazer um breve resumo: a recuperação é a soma de muitos cuidados, respeito com a paciente e muita fé. Para a médica, fatores como a saúde anterior da paciente e as escolhas também foram determinante na recuperação.

Dona Dulce está curada. A recuperação está quase 100% concluída (Foto: reprodução Facebook)