Pela terceira vez consecutiva Pouso Alegre não conseguiu eleger nenhum  candidato “filho da terra” para Deputado Federal ou Estadual. A importância de se eleger um pousoalegrense como deputado é simples: recursos financeiros para a cidade. Durante seu mandato, um deputado estadual pode destinar até R$ 8 milhões para projetos locais. Já um deputado Federal tem ainda mais recursos disponíveis. A partir de 2015, um deputado federal pode destinar até R$ 70 milhões para projetos locais. Isso sem contar outras verbas que podem ser obtidas junto a ministérios. São muitos recursos que poderiam vir direto para nossa cidade, que conseguiu eleger um deputado pela última vez em 2002, com Chico Rafael, quando foi re-eleito deputado estadual.

Novamente Pouso Alegre não conseguiu. Mas por quê? Seria por falta de apoio de outros políticos locais? Não, não foi. A política é assim em praticamente todo lugar. Então por quê outras conseguiram e Pouso Alegre não? Para entender estas questões é necessário analisar os números.

Deputado Estadual

Para Deputado Estadual, Raphael Prado (PV) dava a impressão de que seria o mais votado entre os pousoalegrenses. Ele era claramente o político que tinha o maior numero de propaganda eleitoral nas ruas de Pouso Alegre. Contava com apoio de alguns integrantes do PT, incluindo do próprio Prefeito Agnaldo Perugini, que ainda dividiu seu apoio com o candidato Hélio da Van (PT). O candidato fez carreatas inclusive sobre um trio elétrico. Soma-se a isto o fato de ser bastante conhecido da população pelos vários anos na política. Nas ruas, Raphael Prado era sempre apontado como o que seria mais votado. E foi. Mas não foi o suficiente.

Odair Cunha (PT) deu apoio a Raphael Prado (PV). Foto: Reprodução Facebook Raphael Prado
Odair Cunha (PT) deu apoio a Raphael Prado (PV). Foto: Reprodução Facebook Raphael Prado

Raphael Prado obteve 29 mil votos no total. 21 mil em Pouso Alegre, e 8 mil na região. Teria que ter alcançado quase o dobro disso. O candidato do PV que conseguiu se eleger com menor número de votos foi Inácio Franco, com 58 mil votos.

Alem de Raphael Prado, outros “filhos da terra” concorriam a Deputado Estadual. O ex-prefeito Enéas Chiarini (PR) obteve 10 mil votos (9 mil em Pouso Alegre), e foi o segundo melhor votado na cidade. No total Hélio da Van (PT) obteve mais votos do que Chiarini. O vereador que defende causas animais teve 12 mil votos no total, sendo 5 mil em Pouso Alegre.

Enéas Chiarini (PR) e Hélio da Van (PT)
Enéas Chiarini (PR) e Hélio da Van (PT)

Entre os candidatos que conseguiram se eleger deputado estadual, Dalmo Ribeiro (PSDB) foi o mais votado em Pouso Alegre com 2,8 mil votos, seguido por Ullyses Gomes (PT) com 1,8 mil e Adalclever Lopes (PMDB) com 1,5 mil.

Outros candidatos de Pouso Alegre fizeram campanhas mais modestas e consequentemente obtiveram menos votos. Maurício Tutty (PROS) obteve 2 mil votos (1,7 em Pouso Alegre).  Márcio Lubrimar (PRB) também obteve 2 mil votos, mas apenas 1 mil em Pouso Alegre. Douglas Vasconcelos (PDT) obteve 1,8 mil votos (1,2 mil em Pouso Alegre).

Maurício Tutty (PROS), Márcio Lubrimar e Douglas Vascondelos (PDT)
Maurício Tutty (PROS), Márcio Lubrimar (PRB) e Douglas Vascondelos (PDT)

Ponderação: Analisando os números de votos obtidos pelos candidatos mais votados em Pouso Alegre, fica claro que mesmo que a cidade se unisse em torno de Raphael Prado, e os votos dados aos políticos mais votados na cidade fossem para Prado, o candidato ainda assim não se elegeria. Somados, os votos obtidos dentro de Pouso Alegre pelos outros candidatos a cima citados dariam 23,5 mil votos. Somados aos 29 mil votos obtidos por Raphael Prado, alcançaria 52 mil votos. O número não seria suficiente para que Prado fosse eleito já que a última vaga do PV foi preenchida por um candidato com 58 mil votos.

Deputado Federal

Para Deputado Federal, Alexandre Magno (PHS) era o mais forte candidato “da terra”. Foi o mais votado na cidade, com 13.939 votos. Mesmo estando em um partido pequeno, conseguiu mais votos do que Odair Cunha (PT), que obteve 12.234 votos na cidade.

Presidente do PT em Minas Gerais, Odair cunha é de Boa Esperança, mas tem forte apoio em todo o Sul de Minas. O apoio ficou claro. Figurou entre os mais votados em todas as grandes cidades da Região. Em Varginha, onde manteve seu principal comitê de campanha, Odair Cunha foi o mais votado, com 11.952 votos.  282 votos a menos do que em Pouso Alegre, cidade que mais rendeu votos ao candidato. O bom desempenho em toda a região rendeu a Odair Cunha 201 mil votos, eleito o 4º mais votado em Minas Gerais.

Outro candidato que obteve número expressivo dentro de Pouso Alegre foi Bilac Pinto (PR). O candidato conseguiu 9.821 votos em Pouso Alegre, que depois de Santa Rita do Sapucaí, foi a cidade que mais deu votos ao candidato. Bilac também conseguiu boa quantidade de votos em cidades pequenas ao extremo Sul de Minas. A campanha rendeu-lhe 123 mil votos, mais do que o suficiente para que fosse eleito.

Alexandre Magno foi o mais votado para Deputado Federal em Pouso Alegre.Foto: Reprodução Facebook Alexandre Magno
Alexandre Magno foi o mais votado para Deputado Federal em Pouso Alegre.Foto: Reprodução Facebook Alexandre Magno

Apesar de não ter concentrado sua campanha apenas em Pouso Alegre, Alexandre Magno obteve apenas 4.000 votos fora do município. No total, Magno obteve 18.290 votos. Muito a menos do que seu colega de Partido, Marcelo Aro, que foi eleito com 87 mil votos, e ocupou a única vaga que o PHS conseguiu na Assembleia.

Ponderação: Mesmo que Alexandre Magno obtivesse para si os votos de Odair Cunha e Bilac Pinto dentro de Pouso Alegre, a soma com seus votos alcançaria 40.345 votos. O que provavelmente não mudaria o resultado final. Com 45.000 votos, Brunny (PTC)  foi a candidata eleita com menor número de votos. Alexandre dependeria do desempenho de sua legenda.

Análise & Conclusão

Atualização: Nestas eleições 17 mil pousoalegrenses deixaram de votar, e outros 13 mil votaram em branco ou nulo, totalizando apenas apenas 67 mil votos válidos para deputado estadual. Ou seja, um candidato de Pouso Alegre teria que ter conseguido que pelo menos 8 em cada 10 pousoalegrenses que votaram o escolhe-se, e ainda assim correria o risco de ficar de fora devido a legenda.

Mesmo que nenhum pousoalegrense deixa-se de votar, para eleger um “filho da terra” por conta própria, Pouso Alegre precisaria unir pelo menos metade dos seus 97 mil eleitores em apenas um candidato, e continuaria a correr o risco de ficar de fora. Conseguir apoio de metade da população seria algo fora do comum. No sistema político atual, seria surreal. Em todas as cidades o mais comum é que os eleitores se dividam entre centenas de candidaturas. Para ser eleito, o candidato precisa conseguir muitos votos na região. E é neste quesito que Dalmo Ribeiro, Ullyses Gomes, Adalclever Lopes, Odair Cunha e Bilac Pinto se destacaram. Apesar de não serem “unanimidades” nas suas cidades, eles estiveram entre os mais votados em várias cidades. É neste ponto que os candidatos de Pouso Alegre tem pecado.

Com o resultado fica a lição para Pouso Alegre. Se quiser eleger um “filho da terra”, este não poderá se prender tanto a Pouso Alegre. Terá de ter forte influência e apoio na região. E em uma época em que apoio muitas vezes significa a compra de cabos eleitorais (conforme já foi denunciado aqui) para se eleger, será necessário investir muito dinheiro. Do contrário, apenas conseguirá aquele que for um fenômeno de popularidade, como Tiririca e outros famosos eleitos.

Atualização: Também consegue ser eleito aquele candidato que contar com muita sorte na hora de escolher uma legenda. O candidato Dirceu Ribeiro do PHS conseguiu se eleger deputado estadual com apenas 25.000 votos, ocupando a única vaga que o PHS conseguiu na assembleia. Foi muita sorte, pois o PHS poderia não ter sequer conseguido uma vaga. Em 2012, Raphael Prado foi o mais bem votado para vereador em Pouso Alegre, mas seu partido da época (DEM) não conseguiu nenhuma vaga, e Prado não conseguiu se eleger. Nestas eleições, Zé Maia (PSDB) não se elegeu mesmo tendo conseguido 57 mil votos. Outros cinco candidatos que tiveram mais de 50 mil votos também não se elegeram.

Mas talvez querer eleger um “filho da terra” seja apenas uma utopia. Pouso Alegre já sofre a um bom tempo da dificuldade que as grandes cidades têm para eleger seus filhos. Em Belo Horizonte, por exemplo, políticos da cidade tem muita dificuldade em se eleger para cargos de deputado. Políticos de cidades pequenas, mas que possuem um forte trabalho regional e com forte financiamento de campanha conseguem muitos votos na capital mineira. E na “capital do Sul de Minas”, já não é diferente há muito tempo.

Para Pouso Alegre agora é esperar mais 4 anos. Se para eleger um “filho da terra” no formato atual da política esta difícil, talvez a mudança na “regra do jogo” seja a oportunidade. O voto distrital, que é usado nos países mais desenvolvidos como EUA, Alemanha, Japão, Reino Unido e outros, tem ganhado forte apoio de grandes lideranças políticas do país. Ainda haverá muita discussão sobre qual dos vários modelos do voto distrital seria ideal, e se realmente será implantado. Mas talvez, na falta de um pousoalegrense com força política regional, esta mudança ajude a cidade a voltar a ter representantes locais eleitos.

De qualquer forma, sendo nascido ou não na cidade, a população de Pouso Alegre depositou praticamente a mesma quantidade de votos dadas ao “filho da terra” Alexandre Magno (PHS), em Odair Cunha (PT) e Bilac Pinto (PR). Talvez a população tenha os reconhecido como representantes da cidade. Sendo assim, fica claro que a população espera que estes tragam ainda mais resultados do que um político “filho da terra”.

* Artigo escrito por Douglas Crispim para o Pouso Alegre .NET