Populares sobre a antiga ponte do rio Mandu em 1940 observam a enchente.
Populares sobre a antiga ponte do rio Mandu em 1940 observam a enchente. Imagem: Museu Histórico Municipal Tuany Toledo

Você já deve ter visto essa foto. Seja na parede de algum bar ou restaurante da cidade, no museu da cidade, ou nas redes sociais. Esta foto é 1940 e mostra populares observando a enchente sobre a antiga ponte do rio Mandu. Essa ponte ficava onde é hoje a rotatória da Avenida Perimetral ao lado de um posto de combustíveis.

Ano mais fraca, ano mais forte, as enchentes sempre causaram transtornos e prejuízos à cidade de Pouso Alegre e aos moradores de áreas atingidas. Porém, as enchentes tinham significados diferentes por parte da população.

Naquela época existiam poucas casas no bairro São Geraldo. E quando ocorriam as inundações a várzea se transformava em um grande reservatório natural com as águas das enchentes.

O que era problema para uns, era diversão para outros. Alguns moradores da cidade viam naquela ocasião, um momento propício para transformar a enchente em local de divertimento, onde se praticava a natação, pulavam da ponte sobre o rio Mandu, e se faziam passeios de barcos e de lanchas, de propriedade de pessoas de famílias tradicionais na cidade, como por exemplo, a lancha da família Puccini e a lancha do Xaninho.

Na imagem abaixo, podemos constatar um aglomerado de pessoas diante da inundação do rio Mandu, em uma fotografia do ano de 1940. Nela podemos ver a várzea submersa, e as pessoas vivenciando e observando o caos promovido pelas cheias. Outras pessoas aproveitam o momento propício para navegar na enchente.

Pontilhão no São Geraldo em 1940.
Pontilhão no São Geraldo em 1940. Imagem: Museu Histórico Municipal Tuany Toledo

Porém, se tratando de uma fotografia produzida a mais de setenta anos, torna difícil compreender com exatidão quem são essas pessoas presentes nas imagens. Podiam ser moradores que tiveram que deixar suas casas e observavam a consternação provocada pela enchente, ou pessoas que estavam ali por mera curiosidade.

Talvez algumas pessoas aguardassem a lancha que era utilizada como uma espécie de turismo e lazer. Na foto abaixo, uma das lanchas mais populares que navegava sobre as enchentes da cidade nas décadas de 30 e 40, a lancha do Xaninho.

Lancha do Xaninho na enchente do São Geraldo.
Lancha do Xaninho na enchente do São Geraldo. Imagem: Museu Histórico Municipal Tuany Toledo

Os passageiros embarcavam próximo a ponte do São Geraldo e navegavam na barca por toda a várzea inundada. A várzea do atual São Geraldo quando inundada pelas chuvas era chamada popularmente de “lagoão”.

O texto a seguir se refere à parte de uma matéria capa do jornal Gazeta de Pouso Alegre, datada de 27 de janeiro de 1929. Mantemos nessas reportagens a ortografia da época, para conservar a originalidade das publicações.

Confira:

“A Enchente.

Eu gosto muito de ver a enchente da várzea do Mandú.
Todas as tardes acompanho a romaria dos apreciadores do feito da natureza.
Que Bello espectaculo! Céo e água, e a ponte de concreto aramado abarrotada de gente…
Uns vão, outros voltam, uns atiram à água, para nadar, outros passeiam de canoa, e outros alvejam às espingardas, os urubus que atravessam…
Todas as physionomias tem um rosto alegre provocada pela vastidão do horizonte e pelo verde da vegetação a se retratar naquele lago imenso

Praça Senador José Bento, Avenida Doutor Lisboa, e ao fundo a várzea do São Geraldo inundada pela enchente.
Praça Senador José Bento, Avenida Doutor Lisboa, e ao fundo a várzea do São Geraldo inundada pela enchente. Imagem: Museu Histórico Municipal Tuany Toledo

Na imagem acima, vemos as imediações do centro de Pouso Alegre, Praça Senador José Bento, e a Avenida Doutor Lisboa ao fundo. Bem mais próximo do centro da cidade vê se a enchente antes da mudança do leito do rio Mandu.

Naquele tempo, as inundações eram tristeza para uns, mas beleza para outros.

Fontes: A História de Pouso Alegre de Otávio Miranda Gouvêa. Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.