Você já deve ter visto essa foto. Seja na parede de algum bar ou restaurante da cidade, no museu da cidade, ou nas redes sociais. Esta foto é 1940 e mostra populares observando a enchente sobre a antiga ponte do rio Mandu. Essa ponte ficava onde é hoje a rotatória da Avenida Perimetral ao lado de um posto de combustíveis.
Ano mais fraca, ano mais forte, as enchentes sempre causaram transtornos e prejuízos à cidade de Pouso Alegre e aos moradores de áreas atingidas. Porém, as enchentes tinham significados diferentes por parte da população.
Naquela época existiam poucas casas no bairro São Geraldo. E quando ocorriam as inundações a várzea se transformava em um grande reservatório natural com as águas das enchentes.
O que era problema para uns, era diversão para outros. Alguns moradores da cidade viam naquela ocasião, um momento propício para transformar a enchente em local de divertimento, onde se praticava a natação, pulavam da ponte sobre o rio Mandu, e se faziam passeios de barcos e de lanchas, de propriedade de pessoas de famílias tradicionais na cidade, como por exemplo, a lancha da família Puccini e a lancha do Xaninho.
Na imagem abaixo, podemos constatar um aglomerado de pessoas diante da inundação do rio Mandu, em uma fotografia do ano de 1940. Nela podemos ver a várzea submersa, e as pessoas vivenciando e observando o caos promovido pelas cheias. Outras pessoas aproveitam o momento propício para navegar na enchente.
Porém, se tratando de uma fotografia produzida a mais de setenta anos, torna difícil compreender com exatidão quem são essas pessoas presentes nas imagens. Podiam ser moradores que tiveram que deixar suas casas e observavam a consternação provocada pela enchente, ou pessoas que estavam ali por mera curiosidade.
Talvez algumas pessoas aguardassem a lancha que era utilizada como uma espécie de turismo e lazer. Na foto abaixo, uma das lanchas mais populares que navegava sobre as enchentes da cidade nas décadas de 30 e 40, a lancha do Xaninho.
Os passageiros embarcavam próximo a ponte do São Geraldo e navegavam na barca por toda a várzea inundada. A várzea do atual São Geraldo quando inundada pelas chuvas era chamada popularmente de “lagoão”.
O texto a seguir se refere à parte de uma matéria capa do jornal Gazeta de Pouso Alegre, datada de 27 de janeiro de 1929. Mantemos nessas reportagens a ortografia da época, para conservar a originalidade das publicações.
Confira:
“A Enchente.
Eu gosto muito de ver a enchente da várzea do Mandú.
Todas as tardes acompanho a romaria dos apreciadores do feito da natureza.
Que Bello espectaculo! Céo e água, e a ponte de concreto aramado abarrotada de gente…
Uns vão, outros voltam, uns atiram à água, para nadar, outros passeiam de canoa, e outros alvejam às espingardas, os urubus que atravessam…
Todas as physionomias tem um rosto alegre provocada pela vastidão do horizonte e pelo verde da vegetação a se retratar naquele lago imenso
Na imagem acima, vemos as imediações do centro de Pouso Alegre, Praça Senador José Bento, e a Avenida Doutor Lisboa ao fundo. Bem mais próximo do centro da cidade vê se a enchente antes da mudança do leito do rio Mandu.
Naquele tempo, as inundações eram tristeza para uns, mas beleza para outros.
Fontes: A História de Pouso Alegre de Otávio Miranda Gouvêa. Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.